Quando no século XVIII, as velhas províncias de França foram divididas em departamentos, Issoudun passou simplesmente à sede distrital. Em 1854, quando Pe. Júlio Chevalier chegou, a antiga cidade já modernizada, seus subúrbios e mais dois importantes povoados bastante afastados do centro não formavam senão uma paróquia, uma única igreja, a de Saint-Cyr.
Tal foi o campo que a divina Providência confiou ao zelo do Pe. Júlio Chevalier e que ele devia, com incansável devotamento, cultivar durante mais de meio século, até o momento extremo de sua vida.
Quando em 1854 chegou a Issoudun, era arcipreste o cônego Crozat. Era zelosíssimo, muito estimado dos fiéis e considerado pelos superiores e colegas. Muito debilitado por causa da idade, contava com a ajuda de dois padres auxiliares.
O Pe. Chevalier encontrou junto ao cura um de seus companheiros do seminário maior de Bourges, o Padre Maugenest, com quem contraíra uma estreita amizade. Quando Maugenest ouviu seu colega expor seus projetos de futuro, manifestar suas esperanças de poder um dia fundar em Issoudun uma casa de missionários com o fim de trabalhar na regeneração dessa cidade e de evangelizar a diocese, sentiu-se ele fortemente atraído para essa vida de apostolado e comunicou a seu amigo o desejo de partilhar os seus trabalhos; daí nasceu a sua intimidade.
O Pe. Maugenest foi sempre um seminarista modelo. Seu pai, doutor em medicina, a fim de favorecer o desenvolvimento de suas faculdades, quis que ele terminasse seus estudos no seminário de São Sulpício, em Paris. Foi quando os dois amigos separaram-se, com grande pesar de um e de outro. Em São Sulpício, Maugenest foi classificado entre os melhores alunos. Terminados os estudos, ordenou-se padre e regressou para o seio da família. O cardeal Dupont, arcebispo de Bouges, nomeou-o vigário-auxiliar de Issoudun. Ocupava este posto havia dois ou três meses quando Pe. Júlio Chevalier chegou.
Após algumas semanas, durante as quais o Pe. Chevalier implorou fervorosamente as luzes de Deus, foi procurar seu amigo e, relembrando suas palestras de outros tempos e seus piedosos projetos, perguntou-lhe se ainda conservava as mesmas disposições.
O Pe. Maugenest, emocionado até as lágrimas, arremessou-se em seus braços, afirmando que nunca vacilara desde os felizes dias do seminário. Acrescentou: “Se a Congregação de Missionários que tantas vezes falamos entra nos desígnios de Deus, serei o primeiro a ingressar nela, julgando-me feliz por votar-me inteiramente ao serviço das almas”. Ao ouvir essas palavras, o Pe. Chevalier agradeceu a Deus com todo o seu coração.
Apesar da união das duas almas, necessitavam de um sinal incontestável de Deus. Este sinal decidiram pedi-lo por intercessão da Santíssima Virgem Maria.
Transcorria então a segunda quinzena de novembro, vésperas, portanto, da proclamação da Imaculada Conceição como dogma da fé católica. Os dois sacerdotes resolveram, pois, iniciar a 30 de novembro uma novena de orações, a qual terminaria a 8 de Dezembro, dia escolhido por Pio IX para a proclamação do dogma.
Os dois sacerdotes, juntamente com o arcipreste, irão pedir a Maria, como primeiro fruto da glória de que irá coroá-la a proclamação do dogma, alcançar-lhes os fundos necessários para esta fundação. Se suas orações forem ouvidas, reconhecerão, por este sinal, que seu intento provém de Deus e que é conforme à sua adorável vontade. E comprometeram-se a consagrar a sua obra ao Sagrado Coração de Jesus, a tomar o título de Missionários desse divino Coração, e a propagar, segundo suas forças, seu culto entre os fiéis; prometem ainda a honrar e fazer honrar sua Mãe imaculada duma maneira especial.
A novena foi feita com fervor e no dia 8 de dezembro de 1854, Maria deu a resposta. Diz o Pe. Chevalier: “Apenas terminada a missa, um senhor de Issoudun veio ter-se conosco declarando que uma pessoa generosa, estranha à cidade, desejava consagrar vinte mil francos no estabelecimento de uma boa obra no Berry, de preferência uma obra missionária; que se nós o quiséssemos, essa quantia seria posta à nossa disposição. – O que de fato se verificou.
Desde 8 de Dezembro de 1854, a Congregação dos Missionários do Sagrado Coração ficou moralmente fundada; daí por diante, o aniversário desse dia memorável, duplamente caro a todos os Missionários, será celebrado com grande solenidade em todas as casas da Congregação.
A resposta de Maria iluminava o futuro. O Coração de Jesus queria a fundação, e a divina Mãe declarava-se a sua protetora piedosa. Que desejar mais?
Alguns meses depois, – no dia da Santíssima Trindade de 1855, – os dois auxiliares da paróquia tomavam posse da casa preparada sob os auspícios da celestial protetora, na qual, debaixo de seu olhar, iriam dar começo ao noviciado de seu novo gênero de vida. A pobreza de Belém e as privações do presépio constituíam seus adornos. Encanto sedutor para almas de apóstolos cujo único desejo era de reproduzirem em sua vida a de Jesus Cristo, o Rei dos pobres, cuja única ambição era a de se devotarem como Ele à salvação de seus irmãos.
Trataram de providenciar uma digna capela para aí celebrarem o adorável sacrifício. Monsenhor Cailland, vigário-geral do cardeal Dupont, arcebispo de Bourges, veio benzê-la. Nesse dia celebrava a igreja a festa do santo nome de Maria e, – coincidência providencial – nesse mesmo dia, os jovens apóstolos, em nome do eminente cardeal, foram oficialmente denominados Missionários do Sagrado Coração.
Desde lá se transcorreram 160 anos e a Congregação espalhou-se por todo o mundo. Hoje, presente em 54 países, com incansável ardor tem a missão de viver o Carisma deixado pelo Fundador.
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*Texto tirado do LIVRO: Padre Júlio Chevalier, do Pe. Carlos Piperon. Petrópolis: Vozes, 1949. 256p.