Na época em que cursava teologia li um livro do teólogo Jon Sobrino que me tocou profundamente, “O Princípio Misericórdia: descer da cruz os povos crucificados”. A leitura desta obra abriu minha mente e meu coração para compreender que é missão da Igreja revelar ao mundo, tal como Cristo, o que é ser humano; e na fonte da humanidade verdadeira está a capacidade de se compadecer e agir impulsionado por misericórdia.
O termo “Princípio Misericórdia”, cunhado por Sobrino, refere-se não apenas às importantes obras de misericórdia que praticamos, mas ao fundamento que estrutura a vida de Jesus nos evangelhos e que deve regular a nossa reação diante do sofrimento alheio.
Esse princípio de ação aparece na parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37). A reação do samaritano é apresentada por Jesus como atitude que não está condicionada por nenhuma lei ou preceito religioso – como acontece no caso do sacerdote e do levita –, mas simplesmente porque vê o ferido e se compadece, sente-se movido por misericórdia.
O Princípio Misericórdia constitui o fundamento que estrutura a vida de Jesus e que deve regular a nossa reação diante do sofrimento alheio. Isso nos leva ao compromisso com o sofrido a fim de erradicar o sofrimento do mundo. É esse princípio que deve fundamentar também a vida da Igreja se esta deseja ser parecida com Jesus, ou seja, radicalmente humana.
Isso significa também que o cristão, espelhando-se no Cristo, deve desenvolver a capacidade de interiorizar o sofrimento do próximo e reagir sem outros motivos que a sua situação. Trata-se da misericórdia como ação fundamental do homem pleno. Vista desse modo, a misericórdia não é apenas uma entre outras muitas realidades humanas, mas a que define diretamente o ser humano. Ser humano é, para Jesus, reagir com misericórdia.
O Carisma que nós, Missionários do Sagrado Coração, buscamos viver é essencialmente humano, enraizado na misericórdia. Em nossas Constituições n. 4 lemos o seguinte: “Em comunhão fraterna vivemos nossa fé no amor misericordioso do Senhor; e ao mesmo tempo, somos enviados ao mundo para proclamar a Boa Nova do amor e da ternura de Deus […]”. É este o propósito da nossa consagração, mostrar ao mundo que Deus é amor e fazer com que as pessoas sintam sua misericórdia através da nossa vida fraterna, da nossa acolhida e do nosso modo humano de crer.
Pe. Pablo Moura, MSC
Formador do Postulantado em Vila Velha/ES