O lema do 3º Ano Vocacional do Brasil é um convite eminentemente pascal:
“Corações ardentes, pés a caminho” (Lc 24,32-33). A experiência que os discípulos de
Emaús têm ao encontrar o Ressuscitado faz seus corações arderem e os pés formigarem
pela missão. Fica claro que o encontro com Cristo provoca neles uma inquietação interior
tão forte que os impulsiona a anunciá-lo ao mundo, assumindo sua vocação missionária.
Com isso, a Igreja quer destacar que toda vocação genuinamente cristã começa e
é sustentada pelo encontro com Jesus, que interpela a sair da comodidade e resignação
para segui-lo. Contudo, é necessário ter atenção para que, entre tantos vozerios
verborrágicos e barulhos dispersantes dos dias atuais, se faça uma parada para ouvir a
delicada e melodiosa voz do Mestre.
Recordemo-nos do profeta Elias e de seu esforço por encontrar o Senhor. Sua vida
parecia não ter mais sentido, estava sendo perseguido e ameaçado de morte, sua religião
fora profanada, ficara na mais absoluta solidão, mas restou-lhe a fé. Foi para o monte,
vieram o vento forte, o terremoto e o fogo que esmigalhavam e consumiam tudo, assim
como em seu interior faziam a revolta e o ódio, mas o Senhor não estava em nenhum
deles. Depois, veio o murmúrio de uma brisa suave, um alento em seu coração tão
machucado pelas derrotas e frustrações. Elias sentiu a presença do Senhor que o
impulsionava a continuar sua missão (cf. 1Rs 19,10-15).
No monte, o profeta faz um mergulho interior que o qualifica a separar,
diferenciar, discernir a presença de Deus dentre tantas presenças fortes e inquietantes que
o desanimavam de sua caminhada. Uma parada fundamental para ouvir o Senhor e,
sentindo o consolo de sua presença, se reconectar com sua vocação profética e recolocar
os pés no caminho.
Vivemos uma correria frenética que atrofia os sentidos, nossos ouvidos vão
ficando cheios de informações desnecessárias, nossas pernas paralisam diante das
complicações e batalhas existenciais, o peito esfria na medida em que cultivamos
sentimentos que não se assemelham aos do Coração de Jesus. Como Elias, precisamos
subir o monte que nos reconecta com a nossa vocação e nos devolve a alegria de caminhar.
Eis um monte para o qual somos convidados a ir e permanecer por um tempo a
fim de encontrar Jesus e ouvir sua voz: a Quaresma. A Igreja, em preparação para a
Páscoa, convida a fazer uma parada nesta estação espiritual de quarenta dias, tendo como
objetivo central a conversão a Cristo, centro e meta da existência humana. A Quaresma
com suas penitências, celebrações e exercícios ascéticos é uma convocação a que toda a
Igreja se volte para a fonte e o sentido último da vida cristã.
Neste tempo tão especial assumamos esta empreitada: parar para escutar a voz do
Senhor. Escalar o monte da nossa interioridade para sentir a presença de Jesus. É lá no
mais profundo de nós que ele fala e chama. Não existe vocação verdadeira sem a escuta
interna do chamado de Deus. Do mesmo modo, não há vocação que se sustente na
superficialidade vazia gerada por tantos gritos estridentes e vozes insignificantes. O
coração só arderá na medida em que escutarmos amorosa e atentamente o Mestre, e os
pés só caminharão com firmeza se o seguirmos confiantes.

Pe. Pablo Moura, MSC
Missionário do Sagrado Coração, Promotor Vocacional de sua Congregação e
Formador do Seminário Menor Pe. Júlio Chevalier em Belford Roxo